MILTON LELIS o "Chocolate" Lenda viva do movimento de bandas e fanfarras do Brasil.

Entrevistador: GILSON

Entrevistado: CHOCOLATE

 

Gilson

Faça sua apresentação, e nos relate sobre sua carreira no meio de bandas e fanfarras, e nos diga quais os motivos que o levaram a se integrar no meio ?

Chocolate

Milton Pereira Lelis (Chocolate), 60 anos, casado, na carreira desde 1950, como músico, até 1955, desde então, como professor de bandas e fanfarras (ordem unida). O motivo para o meio era a carência de professores de ordem unida

Gilson

Chocolate, você sempre foi bem eclético, e hoje além de jurado você atua em que área em sua corporação ?

Chocolate

Atuo como professor de ordem unida e no restante do Brasil como Palestrante e jurado.

Gilson

Qual sua atual corporação musical e por quem ela é regida ?

Chocolate

Atual corporação é Colégio Nossa Senhora das Dores e Colégio Santa Catarina e é regida por mim e Ricardo Lima Alves (Ricardinho).

Gilson

O meio de bandas e fanfarras sempre observou a sua presença junto ao Sr. maestro Antonio Domingos Sacco, fale-nos sobre o início dessa amizade, parcerias e quais as corporações que atuaram juntos ?

Chocolate

A amizade como Sr. Maestro Antonio Domingos Sacco começou em 1960 no colégio Bernardino de Campos, na Casa Verde, onde o mesmo era maestro da corporação da qual eu era músico. Daí nasceu à parceria. Trabalhamos juntos nos colégios: Jaime Cortesão, Luíza de Marilaque, Prefeitura Municipal de Mairiporã, Marcílio Dias e Paralelo.

Gilson

Você recebeu algum tipo de crítica que lhe incomodou durante sua carreira ?

Chocolate

Somente uma. Recebi uma no concurso de Cotia aonde regia a fanfarra do colégio Paralelo, aonde vinha sendo considerado o melhor maestro da competição. No final de uma peça, deixei escorregar a batuta.

Gilson

Choco  qual a melhor qualidade e o pior defeito do meio de bandas e fanfarras brasileiro ?

Chocolate

A maior qualidade está no desafio da inovação das bandas e fanfarras e o defeito está naqueles que pensam que sabem, mas não sabem o que estão fazendo.

Gilson

Segundo o que você presenciou, o que foi e como você avalia o atual estágio do meio de bandas e fanfarras no Brasil ?

Chocolate

Segundo eu presenciei, o nível ainda é baixo; os destaques são os mesmos, tanto musicalmente como coreograficamente.

Gilson

As técnicas musicais para aprendizagem utilizada pelos instrumentistas hoje está mais evoluída ?

Chocolate

Sem sombras de dúvidas, tendo em vista o nível dos professores.

Gilson

Qual a sua opinião em relação aos menosprezos feitos por componentes de outras corporações musicais a outras corporações em desenvolvimento ?

Chocolate

Eu acho que deve haver o respeito entre as corporações.

Gilson

Você viajou para o exterior com diversas corporações musicais e também junto a vários maestros . Você acha que as corporações  brasileiras estão ainda muito distantes das estrangeiras nessa globalização ?

Chocolate

Não. Até que enfim estamos chegando lá.

Gilson

No passado o componente que se colocava como Mor à frente de uma corporação sofria (sofre) muitas críticas preconceituosas, hoje temos profissionais competentes não só como Mor mas também como Balizadores , qual sua opinião em relação aos preconceitos de raça, cor, idade, posição social e orientação sexual dentro do meio de bandas e fanfarras ?

Chocolate

Cada um na sua, o que interessa é um trabalho bem feito.

Gilson

Chocolate, você foi um das primeiras pessoas que particularmente me deu parâmetros sobre “Mor”, dicas que ainda sigo até hoje , fale-nos um pouco sobre esse personagem.

Chocolate

O personagem mor, hoje, usa terno e gravata, pois ele não passa de auxiliar de maestro.

Gilson

O que você acha do estilo concha  utilizado pelo Colégio Paralelo defronte ao palanque , e hoje utilizado por todas as corporações ?

Chocolate

O estilo “concha” foi lançado pelo Chocolate no colégio Luiza de Marilaque onde trabalhei com o maestro Antonio Domingos Sacco.

Gilson 

Com os atuais regulamentos limitando a um único estilo, você vê alguma oportunidade de trabalho no futuro aos componentes de corpos coreográficos espalhados pelo Brasil, assim como existem oportunidades de trabalho para os músicos instrumentistas ?

Chocolate

Está mudando o conceito de bandas e fanfarras em relação à coreografia (integração entre bandas e corpo coreográfico). Se for um músico estudado, o mercado está aberto.

Gilson

Qual a sua visão Chocolate, em relação à iniciativa da World Association of Marching Show Bands (WAMSB) do Brasil e o torneio sul-americano realizado na cidade de Taubaté ?

Chocolate

A minha visão é que mudou o conceito de bandas e fanfarras. A WAMSB se faz necessário no meio, pois é através dela que vai se aprimorar as bandas e fanfarras.

Gilson

Chocolate existirá imparcialidade de julgamentos, mesmo com dois estilos de concursos tão diferenciados ? 

Chocolate

Se houver categorias específicas separando as corporações, haverá sim julgamento distinto.

Gilson

Hoje a preocupação dos coreógrafos e maestros não será se limitar a decidir sobre cênico, dança, acrobático ou marcial e sim como coordenar todo o grupo de músicos, corpo coreográfico, mor e balizas para fazerem uma ótima apresentação dentro de todos os estilos e algo mais, competitiva e disciplinada para que jurados capacitados venham a avaliar sabiamente. Qual sua visão com relação a isso ?

Chocolate 

Realmente hoje em dia, há a necessidade de um bom entendimento entre maestro, coreógrafo, baliza e mor para a realização de um trabalho em conjunto entre .

Gilson

Existem pessoas confusas que acreditam que a liberdade de expressão está chegando agora, mas tanto você como muitos, sabem que não é bem assim, isso já existiu, só está voltando, no passado cada corporação possuía seu estilo, isso sim dava margem à competição . O que mais você tem a dizer Chocolate ?

Chocolate 

A liberdade de expressão existe há muito tempo. Certas pessoas estão vendo isto agora e pensam que estão criando, mas na realidade, estão recordando o passado.

Gilson

Chocolate, conte-nos uma situação engraçada que marcou sua vida no meio de bandas e fanfarras e que merece comentários.

Chocolate 

Na cidade de Jacareí, quando vinha com a banda do colégio Paralelo, ao se aproximar do palanque, dei a ordem para que a banda fosse para a formação de apresentação. Quando me desloquei para o centro da concha, a nossa baliza Valéria, jogou seu bambolê para o alto e o mesmo veio cair na minha cabeça, só que, no meio do bambolê, tinha um pedaço de ferro. Até hoje estou “grogue”.

Gilson

Gostaria que você nos deixasse uma mensagem de coração, para o coração e a mente de todos os jovens do meio de bandas e fanfarras .

Chocolate 

Que essa juventude de bandas e fanfarras seja como a música, estando eles em perfeita harmonia. A banda é como um bolo, para que seja bonito e gostoso precisa haver o enfeite de um belo corpo coreográfico, uma bela baliza e um bom mor.

Gilson

O Chocolate deve ser reverenciado por todos os musicistas, linhas de frente, mores, balizas e balizadores, pois é um mito junto a tantos outros mitos que criaram o meio musical em nosso país. Tudo o que é feito hoje já foi feito por ele, possui a visão, a disciplina e a força necessárias para o desenvolvimento de qualquer corporação musical.

Alem de Rosangela e Rogério, milhares de outros filhos puderam aprender com esse pai tão dedicado, sua  alegria contagia a tudo e a todos como mágica, sua voz ecoa nos corações de todos esses filhos permanentemente onde quer que esses filhos estejam.

Saldemos o Hipye, Hipye , Hurra na voz do Chocolate para ele mesmo através de todos nós.

 Deus o abençoe, obrigado Chocolate

 

FONTE: www.afab-ba.com.br